Reencontro com o meu passado.

Este blog foi criado como requisito de avaliação da disciplina Referênciais Teórico Metodológicos da História no Ensino Fundamental, ministrada pelo professor Alfredo Eurico R. Matta, a quem agradeço o desafio deste reencontro com o meu passado, onde através de pesquisas  e de uma entrevista realizada com uma antiga moradora do bairro, trago um pouco da história do bairro de Massaranduba e da Rua Santos Titara, local onde passei toda minha infância, e a relação da Cidade de Salvador nesse contexto histórico.

IMPORTÂNCIA DE SALVADOR NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO

PORTO DA BARRA 

Fonte: http://www.salvador-antiga.com/barra/santo-antonio-barra.htm

CARREIRA DAS ÍNDIAS 

Situada no território ocupado pelos índios tupinambás, a história da cidade de Salvador se inicia antes de sua fundação oficial quando Américo Vespúcio ao se aproximar de Cabo Verde (República de Cabo Verde), localizado na região central do Oceano Atlântico a cerca de 570km da costa da África Ocidental,  é surpreendido por uma calmaria, sendo obrigado a deixar a embarcação a deriva. 

Em virtude de uma corrente marítima natural chegam à Baía em 1º de novembro de 1501, dia de Todos os Santos e lhe dá o nome de Baia de Todos os Santos. Esse fato ocorre um ano após a chegada de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro.Logo, Salvador se tornou referência para os navegadores, devido à sua localização geográfica privilegiada e por abrigar águas tranquilas e propícias à chegada e atracação das embarcações.

Entretanto, o batismo e o surgimento da cidade só ocorrem em 1549 com a chegada da comitiva de Tomé de Sousa incumbida da missão de fundar uma cidade-fortaleza, onde foi escolhido o plano mais alto do sítio, trecho que vai da atual Praça Castro Alves até a Praça Municipal, então denominada de “São Salvador” surgindo como a primeira capital do Brasil, até o ano 1763 quando o Marques de Pombal transfere a capital do Império para o Rio de Janeiro.

A cidade se desenvolveu rapidamente devido a fácil adaptação da cana-de-açúcar ao solo nordestino, sobretudo, no território baiano, adquirindo grande relevância política e comercial, especialmente no que diz respeito ao comércio açucareiro e de escravos onde os engenhos de açúcar se proliferaram por todo o recôncavo, viabilizando que a Bahia se tornasse, no século XVII, a maior área produtora de açúcar do Brasil.

Em virtude desse desenvolvimento e pela necessidade de aportarem a cada chegada das novas frotas portuguesas, a cidade baixa surgiu com sucessivas ampliações da areia da praia original dando origem ao bairro do Comércio que vai até o atual bairro da Calçada. Nela foram construídas fortificações, amarras de naus, cais para saveiros e depósitos de mercadorias que iam e vinham de todas as partes do mundo.

Nesse contexto, Salvador se destacou como o local de reunião da frota anual de comércio e também, foi alçada à condição de sede do único arcebispado da América portuguesa (1667), elevando ainda mais o status político e a importância da capital do império.

Além das atividades comerciais desenvolvidas, a relevância político-religiosa de Salvador durante o período imperial acelerou ainda mais o desenvolvimento urbanístico e arquitetônico da cidade.resultando no ano de 1915 na inauguração da Avenida Sete de Setembro, que abrange desde o Centro até o Porto da Barra, a partir de algumas demolições. Seguindo essa tendência, com o aterro natural, novos bairros foram surgindo no decorrer da segunda metade do século XX.

PENÍNSULA DE ITAPAGIPE E O SURGIMENTO DOS BAIRROS

Fonte: http://www.amoahistoriadesalvador.com/series/page/21/

Com o aterro do manguezal da Península de Itapagipe, novos bairros foram surgindo no decorrer da segunda metade do século XX, a exemplo dos Mares, Uruguai, Jardim Cruzeiro, Vila Rui Barbosa, Baixa do Petróleo, Bairro Machado e Alagados, construídos onde antes era mar e manguezal. Nesse contexto, merece destaque o bairro de Massaranduba, bairro operário de imigrantes, cujo nome é originado da árvore típica da região, a Maçaranduba que crescia entre o massapé, onde as crianças disputavam seus frutos.

                                                                            

MASSARANDUBA:  O BAIRRO QUE ME ACOLHEU

Fonte: Jairo Souza

Localizado entre os bairros da Ribeira, Bonfim e Jardim Cruzeiro, o bairro de Massaranduba teve suas primeiras habitações erguidas sobre o mangue e se constituíam de palafitas. Assim, o bairro passou a ser construído pelo povo, comprando entulho, aterrando como pôde. A economia local era a pesca e o pequeno comércio autônomo. Por se tratar de um bairro povoado por uma mistura de raças (europeus, indígenas e negros escravizados), existia também uma mística cultura religiosa onde havia alguns terreiros de candomblé, e a Igreja Católica.

MASSARANDUBA ANTIGA

Fonte:http://varelanoticias.com.br/mais-de-um-mes-apos-incendio-casas-ainda-estao-no-chao-em-massaranduba-veja-fotos/

  IGREJA NOSSA SENHORA DA PIEDADE


  Fonte: Jairo Souza

A partir dos anos quarenta, fatores de ordem regional e local provocaram fortes mudanças na estrutura econômica, social e física da Cidade de Salvador. Grandes levas de trabalhadores rurais, dispensados do trabalho no campo, migraram para a cidade em busca de novas opções de trabalho.

Como resultado desse processo migratório, Salvador, que mantinha uma população praticamente estável, desde a década de 20, sofreu um crescimento populacional bastante significativo, com o surgimento de indústrias na região (Bonfim, Ribeira, Avenida Caminho de Areia, Comércio, etc.), impulsionando o crescimento populacional da península, resultando no desenvolvimento acelerado e, em certa medida, desordenado do bairro da Massaranduba.

A partir do processo de urbanização do bairro, novas ruas e avenidas foram criadas. Ligando as palafitas da Baixa do Petróleo a Av. Caminho de Areia surge a Rua Santos Titara, batizada em homenagem a Ladislau dos Santos Titara, Poeta, historiador e militar brasileiro, nascido na Bahia e reconhecido, dentre outros feitos pela coautoria do Hino ao 2 de Julho - Independência da Bahia.

SANTOS TITARA, A RUA DA MINHA INFÂNCIA

Fonte: Jairo Souza

Na Rua Santos Titara, além das residências e do seu pequeno comércio autônomo, existiam as fabricas ao seu redor a exemplo da Fabrica de refrigerantes Pepsi Cola e galpões que abrigavam diversos empreendimentos fabris, como tecelagens, beneficiamento de sisal e etc.

GALPÕES  

Fonte: Jairo Souza

Guardo boas recordações da minha infância vivida na Rua Santos Titara, no bairro de Massaranduba, onde cheguei com tres anos de idade e morei por vinte e quatro anos. Mas pra contar a saudosa história desse bairro, fui em busca de uma moradora antiga que me viu crescer, a Sra. C.M.J.M., que foi entrevistada no dia 03 de junho de 2017, às 14:00 horas em sua residencia, e por motivos de recato, permitiu que colocasse apenas as suas iniciais.

ENTREVISTA: PELO OLHAR DE UMA ANTIGA MORADORA.

Maria Helena: Cresci ouvindo a senhora dizer: “Como o bairro de Massaranduba está mudando! Gostaria que me contasse um pouca da historia do bairro, da rua Santos Titara e o que gerou toda essa mudança, pode ser?

C.M.J.M.: Conto sim. Não sei se vou lembrar de tudo, porque quando vim morar com minha tia eu tinha treze anos e hoje estou com 81, olha quanto tempo já tem!  Mas sempre gostei daqui. Me lembro que quando cheguei aqui o bairro tinha poucas casas, alguns pés de árvores de Maçaranduba,  Mangueira e manguezal. O bairro era quase todo rodeado pelo mar, que vinha desde a Península de Itapagipe até o bairro do Uruguai.

As pessoas eram muito simples, viviam dos ofícios que tinham aprendido. Minha tia, por exemplo, era passadeira, tinha um filho que era sapateiro, eu aprendi corte e costura, e me casei com um alfaiate. Outros viviam de um pequeno comércio, tinha a quitanda de seu Caboclo, a venda de seu Pedro Diogo, o açougue de Nelson, tinha também a padaria de Espanha e tinham os que viviam da pescaria como Shorila do peixe e seu Lili que comprava o peixe dos pescadores para revender.

Eram esses os tipos de comércio do bairro naquele tempo. Mas também, tudo que se precisava encontrava aqui.

Me lembro também, que toda vez que a gente tinha que viajar, andava da Santos Titara até a Avenida Caminho de Areia onde passava o bonde que levava até o bairro da calçada pra pegar o trem até Paripe. O bom mesmo era que a Massaranduba ficava próxima de todos os bairros da cidade baixa como a Ribeira, o Bonfim, Uruguai, Jardim Cruzeiro e até da Calçada. Se quisesse podia ir a pé. Depois veio o ônibus elétrico, esse era mais rápido e depois os ônibus que estão aí até hoje.

BONDE CIRCULANDO NO BAIRRO DO BONFIM

Fonte: http://historiadeverdade1.blogspot.com.br/2011/12/os-bondes-na-velha-salvador-bahia.html

Maria Helena: Quando a senhora dizia: “A Massaranduba esta mudando!” se referia a que tipo de mudança?

C.M.J.M.: Tudo. Foram aparecendo muitas fábricas pelas redondezas dando emprego as pessoas, como: a fábrica de Sisal, a de refrigerantes Crusch, a fábrica de chocolate Chadler, a de cigarros Souza Cruz, tinha um Estaleiro onde se consertava os barcos, e outras coisas que não lembro agora. Então, o bairro começou a crescer, chegando novos moradores. Os que já moravam aqui foram melhorando suas casas, os que moravam nas casas em cima da maré, começaram a colocar entulho passando a morar com mais segurança, depois chegou o asfalto e por aí vai.

Agradecimentos;

A Aline colega do curso de pedagogia, Bianca estagiária da disciplina de história, Jairo meu afilhado e a Sra. C.M.J.M. pela contribuição na construção do meu trabalho. 

 REFERÊNCIAS:

Baia de Todos os Santos disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Baía_de_Todos-os-Santos 

Acesso em: 04/04/2017;

Salvador Antiga disponível em: http://www.salvador-antiga.com/ Acesso em: 04/04/2017;

14 bairros fazem de Itapagipe um pedaço encantado de Salvador, disponível em:

http://www.tribunadabahia.com.br/2013/04/22/14-bairros-fazem-de-itapagipe-um-pedaco-encantado-de-salvador

Acesso: 13/04/2017

Massaranduba (Salvador) - Wikipédia a enciclopédia livre, disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Massaranduba_(Salvador)

Acesso:13/04/2017

Entrevista: Realizada com a Sra. C.M.J.M., no dia 03/06/2017, em sua residencia.